Quatro horas da tarde. São Paulo escurece. Estou na estrada. Nuvens pesadas se desfazem e caem na terra em forma de água. As mãos no volante ficam mais tensas, sou eu na direção tentando chegar a um encontro que me fará enxergar o mundo de uma forma diferente. A viagem torna-se longa, mas, enfim chego. Meus olhos são vendados juntamente com algumas outras pessoas, Uma voz feminina nos orienta o caminho até chegarmos a um espaço onde o ar parece ser limpo de poluição. Sentamos numa cadeira pequena e escutamos alguém a falar, conheço aquela voz. Mas, a cabeça vai longe. Os presentes, todos com certa carga de emoção, falavam o que aquele momento traduzia. Somos orientados a tiramos os sapatos e humildemente nos foi oferecido um lavar os pés. E nos pedem para escolher a cor da água que gostaríamos que ela tocasse nossa pele. Amarelo, a cor que escolhi. Pensei no sol, na energia que ele me traria naquele momento. A água estava quente, as mãos fortes massagiavam nossos pés e ficamos ali a enxergar nossa alma. Impotentes, ao mesmo tempo , fortalecidos por uma corrente que emanava dos presentes. Eu, fiquei tensa. Lembrei do meu pai que é cego e senti medo. Aos poucos relaxei e compreendi que a intenção do gesto era aquela mesmo, Olharmos para dentro. Ficamos ali, indefesos, mas existia uma corrente que se formava no ar e que tinha força. Percebi que aquele momento afetaria alguns para sempre. O pano que enxugou os nossos pés se transformará numa obra de arte que ainda não sabemos qual é, mas, com certeza a cor que escolhemos fará a diferença.Beto Guilger , é ele que nos abre os olhos com X-MORADIAS – ensaio geral. Um momento oferecido pelo SESC. Vale a pena interagir nesse espaço.
